Está em discussão na Câmara de Vereadores de Piracicaba uma nova proposta de aumento dos subsídios dos vereadores. A bem da verdade, é preciso esclarecer que não se trata de aumento, mas de recomposição inflacionária. Ao menos é isso que diz o Projeto.
Eu poderia lembrar que, pelas regras constitucionais, o subsídio para uma legislatura é votado na legislatura anterior, que o subsídio anterior era de R$ 6.500,00 e o atual é de R$ 10.900,00, o que representa um aumento de mais de 66%. Lembrar que o aumento dos servidores municipais na mesma ocasião ficou em torno de 6%, que essa diferença nunca foi explicada, nunca foi justificada, nunca foi aceita. Poderia lembrar que 25 mil piracicabanos assinaram um Projeto de Lei de Iniciativa Popular para revogar esse aumento e poderia também lembrar que 25 mil é número superior ao total de votos recebidos por todos os Vereadores da atual legislatura. Poderia lembrar que são raros os Projetos de Iniciativa Popular feitos em toda a história de nosso país e essa raridade decorre das próprias dificuldades que lhe são inerentes, tendo em vista, principalmente, o imenso número de assinaturas exigidas para que ele exista (5% dos eleitores). Poderia lembrar que, por conta dessa enorme dificuldade, em toda sua história, Piracicaba teve apenas dois Projetos de Iniciativa Popular, fato que testemunha a força do desejo popular que esteve presente em cada um deles, o que, para bom entendedor, é sinal claro de que esse aumento salarial não foi aceito pelo povo.
Eu poderia lembrar outra ocasião em que a sociedade brasileira se uniu para construir um Projeto de Iniciativa Popular, que foi o caso da Lei da Ficha Limpa, aprovada pelo Congresso Nacional e mantida pelo Supremo Tribunal Federal quando sua constitucionalidade foi questionada. Eu poderia lembrar que, contrariando essa experiência anterior, a Câmara de Piracicaba sequer votou o pedido popular de revogação dos subsídios, pois seu Excelentíssimo Presidente o engavetou, antes mesmo de colocá-lo em tramitação. Lembrar que contra essa decisão os integrantes do Reaja Piracicaba impetraram mandado de segurança e que em casos anteriores semelhantes o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que julgará esse mandado de segurança, já declarou que a rejeição de projeto de lei não pode decorrer de ato exclusivo do presidente do Legislativo, pois a matéria deve ser votada por todos os vereadores. Lembrar que o Ministério Público, em todos esses casos mencionados, inclusive em nossa cidade, sempre se manifestou pela tramitação da Iniciativa Popular no Plenário da Câmara, reafirmando a razão do Reaja Piracicaba na ação por ele movida.
Enfim, há muito o que se lembrar quando o assunto é o aumento da remuneração de nossos Vereadores e nada é favorável a esse aumento. A não ser o argumento ao qual eles sempre recorrem, a saber, que a Constituição Federal o autoriza. E, diante disso, eu poderia lembrar, mais uma vez, que com todo respeito às opiniões diversas, eu discordo desse argumento, por considerá-lo decorrente de uma interpretação superficial e exageradamente formal da nossa Constituição, que deixa pra trás outros tantos mandamentos dessa mesma norma.
Todas essas lembranças poderiam ser feitas e aprofundadas, mas a meu ver isso seria uma deslealdade para com o leitor, pois são assuntos velhos e já debatidos exaustivamente. Mais produtivo é falar da novidade.
O PL 249/14 tem 5 artigos: o 5º fala a data em que entrará em vigor, caso aprovado; o 4º indica as fontes de receitas utilizadas para o aumento; o 3º indica uma tabela de valores criada em um Decreto Municipal; o 2º fixa em 5,44% o reajuste dos Vereadores. A novidade, o fator surpreendente, está no art. 1º, que trata da remuneração, não dos Vereadores, mas dos servidores do Poder Legislativo, concedendo-lhes 5,44% de reajuste, mais aumento de 2,43%. Na justificativa do PL consta que esses índices recompõem a inflação e concedem aos servidores aumento real. Eu não conferi os números e não posso me manifestar sobre isso.
Mas o ponto que choca é outro. O fato é que quando os Vereadores votaram os 66% de aumento de seus subsídios, fizeram isso em uma lei só pra eles; os 6% dos servidores foi fixado em outra. Os 66% geraram revolta popular, mas nenhum cidadão piracicabano se opôs ao reajuste dado aos servidores. Ao contrário, houve até muita gente que, citando o exemplo dos professores, gostaria que o reajuste desses trabalhadores tivesse sido muito maior.
Com a novidade do atual PL, os mesmos Vereadores que um dia passaram a utilizar grades, vidros e força policial para marcar bem sua distinção, agora misturam tudo, de forma que a discussão está sendo direcionada para os seguintes termos: quem é contra o aumento dos Vereadores também é contra os servidores do Legislativo.
Os Vereadores já perceberam que as barreiras por eles até então utilizadas não foram suficientes para afastar o povo da Câmara e agora devem, com razão, estar supondo que haverá novos gritos de protestos. Mas sabem, da mesma forma que, misturando tudo, poderão contar também com a voz favorável de outras pessoas, ou seja, dos servidores que, legitimamente, gritarão pela aprovação do PL, embora por razões muito diferentes. Seria esse o motivo da mistura?
Régis Bender Montero é Servidos Público e ativista.
ninfa sampronha barreiros
24 de março de 2014
A razão é outra, menosprezam até a capacidade do funcionalismo público de raciocinar. Me senti contemplada com esse texto. Vamos na Câmara hoje para ver a cara desse pessoal que dizem legislar para o povo, que se resume em somente 23 pessoas, nada significativo portanto diante da população piracicabana.
Silvestre Dilio
24 de março de 2014
Vinte e duas pessoas, Ninfa. Vcse esqueceu que o Paulo é contra. Abraços
Antonio Sebastião Hilario
24 de março de 2014
Você se esqueceu de citar que tem um Vereador que não aceitou o aumento e que pode estar votando contra na noite de hoje. Não podemos generalizar e colocar todos no mesmo saco.
régis montero
24 de março de 2014
hilario, eu suponho que todos os vereadores já esperam pelo voto contrário do pc. tb suponho que todos, inclusive o pc, presumam que esse voto não será capaz de mudar a aprovação que, em bastidores, já deve estar combinada.
suponho, ainda, que a armadilha que tentei denunciar será dirigida pelos vereadores contra o próprio pc, dizendo que ele foi contra, não ao aumento dos vereadores, mas ao aumento dos servidores.
por fim, mais do que supor, tenho a convicção de que o vereador tem outros instrumentos de trabalho além do voto.
meu texto pode ter inúmeras falhas, mas ao escrevê-lo, tentei deixar de fora as redundâncias, a fim de contribuir com quem está em busca de uma saída para essa armadilha. torço para que o pc (e qualquer outro vereador) seja mais habilidoso como defensor do povo do que eu como escritor. abração.
Anderson
24 de março de 2014
Eu não sou petista. Mas bem que o Paiva poderia se mostrar como oposição.
Anônimo
24 de março de 2014
Sem comentários…