Livro sobre Golpe Militar de 64 em Piracicaba é vetado

Posted on 28 de março de 2014 por

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O que pode haver de mais essencial para uma cidade do que conhecer sua própria história? O que pode dar ao cidadão maior grau de pertencimento à sua comunidade do que conhecê-la em detalhes?
Nas próximas semanas, Piracicaba deveria estar recebendo um livro que recontará em detalhes o que a cidade viveu a partir de março de 1964, por ocasião do golpe militar. Produzido por um grupo de pesquisadores, jornalistas e pessoas que se debruçaram sobre aquele período, a coletânea começou a ser produzida em agosto do ano passado, em parceria com o Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba ( IHGP). Em fevereiro passado, quando a publicação já se encontrava finalizada em termos gráficos e editoriais – e inclusive com o ISBN concedido ao próprio IHGP que o solicitara -, pronta para ser impressa, a entidade decidiu-se pela não publicação da obra. A decisão de sua Diretoria Executiva foi comunicada à organizadora da obra, via e-mail, sem quaisquer justificativas.
Diante disso, como autores desta obra coletiva, entendemos ser necessário virmos a público para manifestar nossa surpresa e indignação diante do fato. Censura ideológica? Pressões de alguma ordem? Outros interesses? Diante da inexistência de explicações formais do IHGP, perguntas como estas, que nos chegam de várias direções, as quais não temos como responder, gostaríamos de reafirmar que:
a) O livro “Piracicaba, 1964-o golpe militar no interior”, apesar do atraso, será publicado a partir da iniciativa independente de seus autores;
b) Passados 50 anos do golpe militar, quando o país se debruça na revisão do que ocorreu naquele período, é ainda mais importante que o debate se estenda às cidades do interior como Piracicaba, onde histórias se acumulam e precisam ser sistematizadas, analisadas e melhor conhecidas;
c) Piracicaba tem o direito de conhecer mais sobre aquilo que permanece, até hoje, pouco analisado daquele período na cidade: prisões, pressões a sindicalistas e professores, o convívio entre empresários e as forças repressivas, a vigilância constante inclusive sobre cidadãos insuspeitos, a denúncia anônima contra religiosos e docentes, a prática da tortura, perfis daqueles que ousaram reagir.
d) Caso você concorde que episódios históricos fundamentais precisam ser recuperados, contados, preservados; que processos históricos conflitantes que dividiram a sociedade, até pelas tensões que provocam, precisam ser vir à luz; que a livre opinião é valor essencial de uma sociedade democrática; caso você concorde que o debate é fundamental à democracia e precisa ser cultivado e incentivado responsavelmente , fortaleça nossa iniciativa divulgando o que ocorreu e colaborando com a captação de fundos para a publicação, acessando http://www.kickante.com.br/campanhas/piracicaba-nos-tempos-da-ditadura-0 Toda ajuda será bem-vinda.
e) O lançamento do livro está previsto para maio.

Piracicaba, março de 2014.
Beatriz Vicentini, jornalista; Orlando Guimaro Junior, advogado; Patrícia Polacow, jornalista; Caio Albuquerque, jornalista; Ely Eser Barreto César, teólogo; Otto Dana, teólogo; Luiz Fernando Amstalden, sociólogo.