A casa é sua. Por Luis Fernando Amstalden

Imagem montagem da internet

Não, não, o que é isso? Vocês podem entrar sem visto, sem grandes burocracias. Aliás, por nós, não precisariam nem de passaporte. Fiquem à vontade.
Nosso povo?
Não! Nosso povo não vai se importar. Ao contrário, vão ficar felizes. Vocês sabem, nosso povo adora tudo o que vem de seu país. Cantam as suas músicas. Comem seu “fast food”, assistem seus filmes todos, até os mais idiotas. Nosso povo não pode ver um de vocês nas ruas que logo se aproximam, sorrindo e solícitos. Loucos por um pouco de sua atenção, que lelés tentarão chamar com palavras em sua língua, ainda que só saibam falar “ok”, mostrando o polegar virado para cima, sempre sorrindo e oferecendo-se para guia-los e, claro, tentarão pedir algo, uma ajuda financeira, uma dica de como morar em seu país e até tentar vender algo, algum souvenir. Porém, mesmo que não consigam essas coisas, ficarão felizes em estarem com vocês e tirarão fotos para mostrar para os amigos.
Portanto, não se preocupem com as pessoas. Elas vão recebe-los bem.
Aliás, é bom que vocês venham. Vocês sabem, somos uma mistura de raças indolentes, como já disse no passado o nosso vice-presidente Mourão. Se vocês vierem, poderão, talvez, nos ensinar o trabalho duro.
Sim, seria bom termos algum sangue trabalhador aqui. Na verdade, seria ótimo. Assim o povo criaria vergonha na cara. Talvez parassem de exigir direitos absurdos e se disciplinariam a trabalhar muito, sem pensar em aposentadoria e outros “mimimis”.
A mesma facilidade para os nossos?
Não, de jeito nenhum. Não façam isso.
A maioria dos nossos nem tem dinheiro para viajar e quando o conseguem só querem usufruir do seu país. São um bando de “canibais”, como disse o nosso ministro da Educação. Vão roubar os travesseiros dos hotéis, os produtos dos supermercados e, talvez, até molestar suas mulheres.
Claro, tem uma porcentagem dos nossos que tem dinheiro. Mas, no máximo, eles vão à Miami fazer compras e à Disney. Rapaz, eles são fanáticos pela Disney.. Alguns vão sete, oito, dez vezes. Até mais. Mas são poucos, como eu disse, e não costumam passar do sul de seu país.
De fato, vocês não devem afrouxar as suas regras. Já temos dificuldades com eles aqui, principalmente os pobres, e não queremos que vocês também as tenham. Deixa como está. Os pobres não irão e os ricos voltarão logo da Disney. Na pior das hipóteses, eles levarão dinheiro e ficarão em Miami mesmo. As suas exigências vão selecionar os capazes dos parasitas.
Mas falemos de sua vinda.
Não se preocupem com os pedintes nas ruas ou os que tentarão vender suvenires. Venham falar direto com nosso governo
Temos coisas melhores para vender. Petróleo, nióbio, madeira, soja, minério de ferro (esse, aliás, em promoção desde Brumadinho). Na verdade, tudo estará barato. Agora que vamos acabar com “mimimi” dos ambientalistas, com a preguiça dos índios e quilombolas que ocupam muita floresta, tudo isso e mais a madeira estará a preço de ocasião.
E tem mais, muito mais. Tem estatais, tem a Petrobrás, que esse povo não merece . É melhor vender a vocês antes que roubem da Petrobrás de novo. E também é bom para que se acostumem aos preços do combustível no mercado internacional. Tem que acabar com esse privilégio. SE não puderem pagar, paciência. Quem mandou serem incompetentes e não ganharem o suficiente?
Venham, temos muito a vender e muita simpatia a dar.
Temos inclusive bananas fresquinhas, do vale do Ribeira, onde logo a família Bolsonaro e aliados vão aumentar a produção plantando em antigas reservas florestais inúteis e usando agrotóxicos agora liberados.
Venham, a casa é sua…