Crônicas de Telópoli. A VIDA, A ONDA … O IRIMI NAGUE. Por Fábio Casemiro

Posted on 27 de janeiro de 2014 por

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Onda

Para tia Sol, Para Gabi e Para Caio

Esse mar conta uma história
eu, ela, nós e tu
Cada ponto, cada vírgula
a onda é reticências

O Mar é crônico
janelas paralelas quebrando
na minha cabeça

Esse mar me conta suas histórias

de eu a tu a nós

E a vida é crônica nas suas espumas

 

Salpica como semicolcheias que me convidam:

assim nascerá

a última sereia

 

Na boca do mar eu não sou eu

você não é você

somos somente nós

que se desatam em névoa

efêmera e se levanta

 

Castro Alves me dizendo: são espumas flutuantes,

meu rapaz

 

As ondas precisam dizer a nós,

e o que devemos fazer

– por respeito ao mar!-

é nos desatarmos

 

Assim como o amor não prescinde da liberdade
o mar nos relembra nas suas ondas…

Que a vida se faz pela fúria

 

Ingênuo quem supõe a vida

sem a bondade serena e generosa

da fúria

 

O mar é uma lâmina

afiada, uma revelação

indomável em que a cada

braçada, a cada respiração há

uma presença arrebatadora:

a da escolha

 

Não se escolhe uma onda
Aceita-se que venha, ainda
que nos tome de assalto
– é a vida – ainda que não haja
fôlego, ainda que pensemos
não mais ser possível
a última das nossas ações

E na queda, a onda quebra

não pode ser depois

e não pode não ser

 

A onda revela a violenta
ejaculação da vida
no momento exato infalível
e instantâneo…

E mostra-se apenas espuma

A vida é apenas uma respiração
breve, entre a primeira onda
e a próxima

Para além da fúria da onda,
só existe a leveza…
A espuma.

TocToc pequeno, verão de 2014

Fábio Casemiro é doutorando em Teoria Literária pela Unicamp,  mestre em Teoria Literária pela Unicamp, especialista em História Cultural e historiador pela Unimep