Minha mensagem ao PT de Piracicaba (e de todo o Brasil). Por Luis Fernando Amstalden

Posted on 13 de novembro de 2013 por

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estrela do ptEnviei esta mensagens às executivas nacional, estadual e municipal do PT. Estou aguardando a resposta.

Senhores (as) membros da Executiva do Partido dos Trabalhadores.

Quando o partido foi fundado, em 1980, vivíamos num regime  de ditadura. Eu tinha apenas 16 anos e não pude me filiar. No entanto, tornei-me imediatamente simpatizante do PT. E não era só porque defendiam a redemocratização do país ou mesmo porque fosse um partido dito “de esquerda”, mas principalmente porque me pareceu, na época, que era uma agremiação política que, acima de tudo, pregava uma verdadeira democracia, que deveria vir junto com a conscientização dos mais pobres a respeito de sua importância, seus direitos e sua cidadania. Também via no discurso de seus membros, a busca de uma ética intransigente, que não tolerava corrupção ou desrespeito à democracia.  Em 1982, não pude votar, uma vez que não completei os 18 anos na data limite para obter o título. Mas naquelas primeiras eleições diretas em muito tempo, fiz uma campanha exaustiva, indo a comícios, distribuindo panfletos e dialogando com amigos e parentes. Fiz também uma longa “boca de urna”, praticamente sozinho, num colégio da cidade.

Pois bem. De lá para cá, confesso que colecionei grandes decepções com o partido. Gostei sim, e reconheço, de algumas de suas atitudes, porém, dentro daquilo que eu esperava de forma mais ampla, me decepcionei. Perdoem se não exponho todos os fatos positivos e negativos que percebo. Ficaria exaustivo arrolar todos e este espaço não comportaria. Além disto, não escrevo esta mensagem a vocês para me queixar ou para julgá-los. Não sou dono da verdade e minha decepção  e minha aprovação não são,  necessariamente, inquestionáveis. Meu objetivo, porém, através desta mensagem, é pedir sim um esclarecimento. Na verdade é algo pontual, simples, mas, a meu ver, profundamente significativo.

Ocorre que a Câmara de Vereadores de Piracicaba aprovou, em 2012, em uma sessão rápida e unânime, o aumento dos subsídios dos vereadores de maneira desproporcional. Quase 66% de aumento. O vereador petista, Sr. Paiva, que se coloca como oposição ao governo local, votou a favor. A população, indagada em pesquisas de opinião, nunca concordou com tal aumento. Mais do que isto, um grupo de cidadãos iniciou um movimento, cujo foco central é o controle social e a transparência na política. Este grupo, apoiado pela população, coletou mais de 25 mil assinaturas para um projeto de lei revogando o aumento. Este projeto, por sua vez, não foi apreciado pela Câmara, posto que foi considerado ilegal. Seus vereadores, agora dois, Sr. Paiva e Sr. Francisco Almeida, se abstiveram de apoiar o projeto e de considerá-lo. Até agora, aliás, não ouvi nenhuma defesa coerente destes vereadores (e muito menos dos outros, da “situação”) para tal aumento, a não ser o de que foi um aumento “legal”, previsto pela legislação vigente ao passo que o projeto de lei é “ilegal”, fora da lei atual. Pior, o único vereador eleito (que não é do PT) e que abriu mão do aumento antes das eleições, tem sido desprezado e isolado pelos demais (inclusive pelos do PT). E aí vem meu pedido (sincero) de esclarecimento: O PT está mesmo comprometido com a vontade popular?  A proposta ética do PT é mesmo a de promover, acatar e defender a democracia? Se é, então por que a vontade do povo, expressa nas assinaturas, não foi sequer considerada? Por que seus representantes se calam ou mesmo combatem aqueles do povo que assinaram o Projeto de Lei? Diga-se de passagem, um volume de assinaturas maior do que os votos que elegeram cada  vereador da Câmara de Piracicaba juntos e, no entanto, ignorado por aqueles, e isso inclui os senhores, que deveriam resguardar a democracia. Existe algum motivo real, econômico, político, social, racional enfim, que justifique o silêncio em relação a todos estes fatos? Se existe, por favor, me digam, me esclareçam, principalmente neste ano eleitoral em que todos os partidos estão nas mídias apregoando a democracia. Sua resposta não é importante apenas no contexto local, municipal, mas demonstrará sua coerência e proposta enquanto partido, o mesmo em que acreditei, votando tantas vezes, em seus candidatos.

Só lhes peço, encarecidamente, que não me digam que o Projeto de Lei revogando o aumento deixou de ser apreciado por estar fora da legislação vigente, ao passo que o aumento está dentro da mesma. E peço isso, de coração, por uma razão simples. Quando o PT foi fundado, a legislação vigente impedia eleições diretas, permitia a censura e a perseguição política. Na época, se questionados, os políticos da situação e os militares argumentavam que faziam o que faziam porque era a lei e tudo o mais estava fora dela.

Não me digam, por favor, que adotaram o mesmo princípio.

Certo de sua resposta, permaneço no aguardo.